junho 11, 2011

Conjuntura política e rumos do partido movimentam reunião do diretório

Foto: Acácio Pinheiro
Dirigentes debateram o atual cenário político e o papel do PPS como oposição




Os debates sobre conjuntura política e rumos do PPS movimentaram a reunião do Diretório Nacional do partido na noite desta sexta-feira. Todos os dirigentes reafirmaram a oposição do partido perante ao governo Dilma e apresentaram suas visões de como deve se dar esse enfretamento político.

Para Anivaldo Miranda, o PPS, por sua trajetória histórica, não pode ser confundido com os demais partidos de oposição. “Precisamos encontrar um caminho próprio nesse universo, não podemos cometer erros e sermos capturados por uma ótica equivocada da conjuntura nacional”, defendeu.

Código Florestal

Na avaliação do ambientalista, a legenda cometeu um equívoco político ao liberar a bancada na Câmara na votação do Código Florestal. “A discussão é bem mais ampla do que impor uma derrota ao governo”, alertou, dizendo que o PPS deveria aprofundar mais a discussão da proposta.

Para ele, o partido deve definir claramente sobre questões como essa, sob pena de incorrer no erro de “fazer oposição por oposição”

Para Luiz Castro, dirigente do PPS, a discussão a respeito do Código Florestal não pode se dar em um clima passional. “Sou agricultor; não misturem os agricultores com inimigos do meio ambiente”. Castro disse ainda que os agricultores não são “bandidos”. Na opinião dele, o partido “não deve ir a reboque de Marina Silva, ex-candidata a presidente. “Ela está surfando nessa onda, e nós temos de pensar na sustentabilidade, ser o partido da sustentabilidade futura; juntar a academia com o meio ambiente e o agricultor, a rua e a internet”.

Capitalismo orientado

Na opinião de Gilvan Melo, também dirigente do partido, a análise política deve partir da base econômica. “No Brasil, o capitalismo venceu; o governo do PT inventou o capitalismo de estado orientado, cujo exemplo é a política desenvolvida pelo BNDES”. O banco é um instrumento desse modelo econômico, afirmou. O governo injeta bilhões na instituição, para ser repassado a grandes empresas, e vai tomar emprestado no mercado, a taxas de 12% ao ano. “Não é à toa que o ‘comandante’ Lula vai a Cuba no jatinho da Oldebrecht”, ironizou.

Oposição

A ex-vereadora Soninha Francine criticou o governo do PT e a forma como o ex-presidente Lula incentivou o consumo desenfreado. Para ela, a visão do partido e de Lula em relação à política e a economia é “imediatista”. O PPS, segundo Soninha, tem que não só desaprovar o governo do PT, mas também avançar para se qualificar como oposição com compromisso nas áreas de saúde, do meio ambiente e da segurança pública.

Novos valores e nova política

Givaldo Siqueira, do Diretório Nacional, alertou que o PPS não pode se guiar apenas pelas contradições do governo petista. Ele disse que o diferencial do partido em relação ao PT é a concepção de Estado. Para Givaldo, não se pode “fazer política olhando para trás porque o mundo criou novos valores que determinam uma nova política” e também uma nova concepção de partidos políticos.

O dirigente disse ainda que a dijuntiva entre preservação ambiental e produção agrícola no embate da votação do Código Florestal na Câmara dos deputados é falsa. Para Givaldo, a reserva legal não pode se transformar em museu, mas em vantagem para as gerações futuras.

Já o presidente em exercício do diretório do PPS na Bahia, Edervall Poli, avalia que os problemas no governo Dilma Rousseff acontecem porque o PT está vivendo uma crise de identidade. “No poder, está se contradizendo, fazendo o contrário de tudo que sempre defendeu”, criticou.

Presidencialismo de coalizão

Roberto Percionoto, do Rio de Janeiro, chamou a atenção para o fato de que o projeto de poder do PT está assentado em dois aspectos: o movimento sindical e o presidencialismo de coalização, exercido pelo ex-presidente Lula durante seus dois mandatos.

Para ele, o PPS e a oposição não podem aceitar o presidencialismo de coalizão que transformou, na sua opinião, o Estado brasileiro em uma grande empresa que se aglutina pelos negócios e não pela política. “Essa crítica é necessária até porque precisamos fazer oposição com inteligência, de forma vigorosa e sem vacilações”, defendeu.

Democracia e desigualdade

O deputado federal Arnaldo Jordy (PA) disse que o PPS tem de refletir sobre sua identidade, e que o ponto de partida é a análise da atual conjuntura política para enfrentar os desafios centrais da sociedade, como a questão do compromisso com a democracia e o combate à desigualdade social.

“Esses são os dois caminhos do PPS e da oposição, até porque o governo do PT tem uma visão utilitarista da democracia, com postura de ser conivente com a concentração de renda pelo capital financeiro”, disse.

Para o deputado, democracia e combate a desigualdade devem estar presentes na agenda do PPS de forma mais propositiva. O caminho para que isso ocorra, segundo ele, é o partido voltar a se inserir nos movimentos sociais.

Jordy disse que o PPS não pode fazer oposição por conveniência para não cair no isolamento, mas qualificar-se em torno de uma agenda que busque definir uma identidade, sempre escolhendo os aliados.

Fortalecimento

O líder da bancada na Câmara e secretário-geral do partido, Rubens Bueno (PR), defendeu que a legenda intensifique os contatos com os pré-candidatos a prefeito de pequenas e médias cidades em todo o país. Para ele, a reunião realizada sexta-feira em Brasília foi o pontapé inicial de uma série de eventos que deverão acontecer até as eleições de 2012.

“Precisamos intensificar esse trabalho para possamos apresentar uma nominata identificada com as nossas propostas e unida para vencer as eleições”, reforçou Bueno.

Segurança

O pré-candidato à Prefeitura de Salvador, Santos e Santos, cobrou do partido um projeto mais sintonizado com as reivindicações da sociedade. Para ele, questões como educação, saúde e segurança devem ser encampadas pela bancada no Congresso Nacional. “Precisamos ter propostas para atender a estas demandas, que são reais”, afirmou.

Santos e Santos, que é presidente de uma Associação que representa os PMs na Bahia, alerta ainda para a iminência de uma greve geral no país de todos os segmentos da área de segurança. “O SOS Bombeiros no Rio de Janeiro é só o início”, disse, ao pedir o apoio do PPS para a PEC 300, que cria um piso nacional para a categoria.

Centro-Esquerda

O dirigente do PPS em Minas Gerais Juarez Amorim cobrou do partido o aprofundamento do debate sobre as divergências internas. “Para que possamos construir uma proposta de centro-esquerda, é preciso que nós discutamos democraticamente nossas divergências”, afirmou.

Amorim criticou ainda a política econômica do governo Dilma Rousseff, que, segundo ele, é uma continuidade do segundo governo Lula. “Baseado no consumo irresponsável e no endividamento das famílias brasileiras”, disse.

Juventude

A coordenadora nacional da JPS, Raquel Dias, cobrou ações mais efetivas por parte dos dirigentes em relação à formação política da juventude. “Não somos parte isolada do partido. A juventude tem de ser fomentada”, reiterou.

Raquel destacou ainda a realização do congresso da JPS, no final do ano, e a cobertura da reunião do Diretório Nacional pela internet como “positiva” por dar transparência as discussões internas do partido. Ela defendeu também a necessidade de o partido “unir retórica e ação política”.

Código Florestal

Dina Lida cobrou reflexão dos integrantes do partido sobre a questão ambiental. Criticou o fato de que pessoas dentro do PPS estejam se punindo por causa de uma questão que merece um debate mais aprofundado.

“Temos uma bancada dividida entre ruralistas e ambientalistas. Um deputado nosso (Arnaldo Jardim – SP) aprovou uma lei sobre resíduos sólidos e apenas falamos em Código Florestal. A questão ambiental é muito mais ampla, já que a população vive na cidade”, observou.

Sou oposição, sim!

Já vereador Zenildo de Sena Madureira, no estado do Acre, relatou a situação política em sua unidade da Federação. Disse que há 12 anos o PT governa por lá e que o atraso é a principal marca da região.

“O governo não trata da educação. Professor ganhar R$ 545, o que é uma imoralidade. Por isso que sou oposição e não tenho vergonha de ser o único vereador neste campo em minha cidade”, disse.

Reflexão

Já a deputada estadual Luzia Ferreira (MG) abordou o que ela classificou de “crise de identidade” pela qual passa seu partido. Justificou que a partir do momento em que o PPS se aliou umbilicalmente a DEM e PSDB começou a sofrer de uma ambigüidade política.

“Somos minoritários e perdemos autonomia na formulação das políticas, quando nos vinculamos de forma quase orgânica a estes dois partidos”, disse ela, que é pré-candidata à prefeitura de Belo Horizonte.

Luzia disse ainda que não vê diferenças entre as duas últimas forças políticas que ocuparam o Palácio do Planalto nos últimos 16 anos. “Qual a diferença entre os oito anos de FHC e os oito de Lula?”, indagou.

Cobrou ainda que o PPS viabilize a construção da chamada 3ª via, que ficou em evidência após os resultados obtidos pela ex-senadora Marina Silva (PV), que concorreu à Presidência da República em 2010 e obteve a terceira colocação. “Temos que sinalizar que somos diferentes destes dois pólos (PT-PSDB)”, finalizou.

Vendendo ilusão

Os dirigentes Antônio Granja (ES), Jorge Espechit (MG) e Guto Rodrigues (AM) também participaram das discussões da reunião do Diretório. Granja quer um partido aguerrido, que não fique a reboque da burguesia, mas saia com uma alternativa.

Espechit levantou o fato de o PT ter vendido “a ilusão” de que iria reduzir as desigualdades sociais. Ele ressaltou que isso não ocorreu, embora tenha havido diminuição da pobreza e do desemprego, “o que é muito diferente".
Há emprego, mas não há mão de obra especializada. Isso demonstra que a crítica do PPS deve ser no sentido da falha na educação.

Quanto à questão da identidade do partido, Espechit diz não ter dúvida de que a democracia está no DNA do PPS e de que isso deve ser levado para o cotidiano e para a prática política. “Falta o compromisso com a sustentabilidade”, observou.

O partido, na opinião de Espechit, deve se inserir em movimentos como as ONGs da área ambiental, que são, em sua maioria oposição ao governo Lula, mas que o PPS trata com preconceito.

Análise mais aprofundada

Guto Rodrigues acha que o PPS está com uma disposição diferente, com uma discussão do XVII Congresso que aponta para o resgate da análise mais aprofundada dos novos tempos. “Estamos sempre atualizando o debate”, ressaltou.

Ele lembrou que o partido passou por três fases: de 1970 a 1980, quando havia crescimento econômico, mas inexistia liberdade. “Nessa época, fomos organizar os trabalhadores; depois, o partido teve um grande papel na restauração do estado democrático de direito”. Atualmente, há uma nova fase e é preciso conviver com ela.

Guto salientou que o partido tem uma janela de interatividade. “O PPS existe e pede passagem; temos ação e resgatamos todo o processo do PCB”. Para ele, o XVII Congresso deve aprofundar a discussão das melhores propostas de ação, “para que deixemos o melhor legado para os que vierem depois de nós, como dizia Bertold Brecht”.

Por: Assessoria do PPS

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