outubro 24, 2011

Giselle Hubbe pede incentivos para treinamento de cães-guia para cegos

Giselle Hübbe, Miss Brasil DV defende uso de cão-guia por deficientes visuais
 
A gaúcha Giselle Hübbe, 21 anos, eleita em julho a primeira Miss Deficiente Visual do Brasil, vive à espera por um animal. Há três anos, ela aguarda pela doação de um cão-guia para ajudá-la nas suas atividades diárias. Com cerca de 3% da visão em um olho e 7% no outro, em razão de uma neuropatia ótica hereditária de Leber, diagnosticada ao nascer e, por enquanto, sem chances de reversão, a jovem espera pelo animal. “O cão facilitaria os meus deslocamentos pela rua. Outra vantagem é que não precisaria do auxílio das pessoas ou do uso da bengala para minha locomoção”, explica.

Giselle, que trabalha como degravadora na Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs), destaca que entre os benefícios de se ter um cão-guia está a maior segurança no deslocamento e a facilidade de integração do cego no mercado de trabalho. Além disso, segundo a miss, existe a garantia de maior velocidade e desenvoltura na circulação, já que o animal adestrado é capaz de se antecipar aos obstáculos, escolhendo para o cego o melhor caminho. Segundo ela, o governo federal poderia criar uma linha de financiamento para ajudar as instituições que realizam o treinamento dos animais. “O deficiente não arca com o custo de R$ 25 mil do treinamento. Quem vai atrás dos recursos são as ONGs, que depois doam aos cegos inscritos”, acrescenta.

Giselle explica que pretende usar o título de Miss Deficiente Visual do Brasil para mostrar à sociedade brasileira mais uma das dificuldades enfrentadas pelos cegos: a longa espera por um cão-guia.

Treinamento de animais dura dois anos e custa ao menos R$ 25 mil

Um levantamento da Organização Não Governamental Instituto Cão-Guia Brasil, com sede no Rio de Janeiro, revela um dado preocupante: a existência de uma fila de espera de 12 mil pessoas com deficiência visual por um cão-guia no Brasil. Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia apontam que 1,5 milhão de pessoas no País são deficientes visuais. Estatísticas internacionais mostram que entre 1% a 2% dos cegos utilizam um cão-guia para sua locomoção. No Brasil, o número estimado de potenciais usuários seria de 12 a 24 mil cegos que deveriam ter um animal adestrado, segundo a ONG carioca.

O presidente do Instituto Cão-Guia Brasil, George Thomaz Harrison, destaca que somente 80 animais treinados estão em atividade no País. Segundo ele, o treinamento do animal demora dois anos e o investimento custa entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. Os animais mais utilizados são os cães das raças golden retriever, pastor alemão e labrador.

Para Harrison, o governo federal poderia apoiar as instituições que realizam o adestramento dos cães-guia com a criação de um projeto de lei. A proposta é que as empresas que doassem às ONGs tivessem isenção fiscal. “Com certeza, teríamos mais empresários interessados no projeto e conseguiríamos treinar mais animais”, comenta. Ele aconselha que os deficientes visuais se inscrevam em diversos projetos, inclusive em instituições do exterior para conseguir um animal. “Entreguei um cão no mês de agosto e outro em setembro para pessoas que estavam na nossa fila de espera há dois anos e meio”, lamenta.

De acordo com Harrison, para se ter uma ideia da lentidão do processo, apenas quatro instituições com sede no Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Brasília realizam o treinamento dos animais. Nos Estados Unidos, as dez principais entidades que atuam na área entregam 1.600 cães por ano. “No Brasil, estamos entregando dez animais por ano e temos que levantar as mãos para o céu”, resume. Conforme Harrison, as entidades fazem de tudo para suprir as necessidades dos deficientes visuais, mas acabam trabalhando abaixo da capacidade porque não têm recursos financeiros. Segundo o presidente do Instituto Cão-Guia Brasil, os deficientes não podem perder a esperança de um dia receber um animal adestrado. Ele acredita que é necessária a realização de um movimento na sociedade brasileira que sensibilize os governos federal, estadual e municipal no sentido de que invistam nos projetos de treinamento de cães-guia.


* Matéria publicada no Jornal do Comércio, em 17 de outubro de 2011

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